Na edição de 2025, que premia os  trabalhos da turma de 2022,  o trabalho de Hellen Pabline Leal Conceição ficou em primeiro lugar, ao refletir como o ensino de história pode ser também uma forma de reparação simbólica e de transformação social. Sua dissertação “Sejamos todas/os professoras/es antirracistas: ensino de História e interlocuções dos pensamentos feministas negros para os anos iniciais do ensino fundamental” reafirma a força das mulheres negras na produção do conhecimento histórico e educacional.

Natural de Caxias (MA), Hellen Pabline Leal Conceição iniciou a graduação em Licenciatura em História pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) em 2012, após aprovação pelo ENEM de 2011 na modalidade de cotas. Atualmente, atua como professora nos anos iniciais do ensino fundamental em uma escola particular de Teresina (PI), lecionando História e Geografia. Concluiu seu mestrado em 20 de abril de 2024, no Programa Profhistória pela Universidade Estadual do Piauí  (ProfHistória/UESPI – Campus Parnaíba).  Sua dissertação, orientada pela Profa. Dra. Joseanne Zingleara Soares Marinho, foi indicada para publicação e recebeu nota máxima pelo mérito educacional, historiográfico e social.

Em conversa com Sônia Meneses e Anna Luísa Duarte, Hellen falou sobre sua trajetória, os desafios e as motivações que orientaram sua pesquisa.

Profhistória: Hellen, nos fale Como você conheceu o ProfHistória e o que te motivou a ingressar no programa?

Hellen Pabline Leal Conceição: Conheci o ProfHistória por indicação de uma amiga, também professora de história. Nós conversávamos sobre o desejo de aprofundar nossos estudos e fazer um mestrado que dialogasse com o nosso cotidiano na docência, quando ela mencionou esse programa que havia conhecido em uma palestra. Achei imediatamente interessante a proposta do ProfHistória de valorizar a professora/professor também como pesquisadora/pesquisador e, no ano seguinte, em 2011, tentei a seleção.

ProfHistória: Sabemos que é difícil conciliar o cotidiano da sala de aula com a pesquisa, contudo, essa própria experiência cotidiana pode ajudar no processo de reflexão.  Como foi viver essa experiência de conciliar a docência e a pesquisa no ProfHistória?

Hellen Pabline Leal Conceição:  Foi um desafio, mas também um percurso de muito aprendizado. As professoras e professores do polo UESPI/Parnaíba foram de grande importância ao longo de todo esse processo. As disciplinas ministradas, os textos escolhidos e as abordagens adotadas foram pensadas para auxiliar na escrita acadêmica e na elaboração do conhecimento. O espaço escolar, nosso lugar de vivência, pôde ser utilizado como espaço de pesquisa. Um ponto fundamental em minha experiência, e que acredito ser importante frisar, foi a preocupação que o programa teve em organizar com antecedência a disposição das disciplinas. Dessa forma, antes de o período letivo do ensino básico começar, já tínhamos ciência dos dias em que seriam distribuídas tanto as disciplinas obrigatórias quanto as optativas. Isso, para mim, foi de fundamental importância, pois pude ajustar meus dias de trabalho e estudo e, assim, consegui cursar as disciplinas sem prejuízos de choque de horários. Pensar a organização do curso e a socialização das informações com antecedência para o seu público, que abrange diversos grupos sociais com suas próprias especificidades, foi uma demonstração de comprometimento muito grande com o ensino e a pesquisa.

Profhistória:  Sua escrita combina teoria e prática, unindo vivências, escuta e escrevivência. A dissertação evidencia que o combate ao racismo precisa começar cedo, ates que a criança negra aprenda a se ver de forma inferior. Quais foram os principais aprendizados dessa trajetória do mestrado profissional?

Hellen Pabline Leal Conceição:  Relembrar que a/o professora/professor também é um pesquisador em sala de aula. Esse foi um dos aprendizados mais importantes para mim, pois me senti valorizada enquanto profissional ao longo do percurso do mestrado. Nós levantamos hipóteses, nos deparamos com situações-problemas, avaliamos, relacionamos conhecimentos diversos, experimentamos e produzimos conhecimentos. O ambiente acadêmico universitário ainda guarda uma distância muito grande do ambiente escolar. No entanto, com o ProfHistória, vi esses universos se aproximando, dialogando. Aprendi o quão necessário e possível é estabelecer aproximações entre as narrativas históricas e o ensino de história, pois pensar um projeto de sociedade e de ser humano é também refletir sobre o nosso sistema educacional e construir uma educação comprometida com a transformação social nos vários níveis de ensino. Dessa forma, no mestrado profissional vi a valorização do ambiente escolar enquanto um espaço complexo e que deve receber também esse olhar como ambiente de pesquisa no campo da História. No ProfHistória, também aprendi a lançar um olhar mais amplo para a ciência História e a constituição do campo historiográfico, a partir do compromisso que as/os professoras/professores estiveram promovendo discussões atualizadas do campo das humanidades. Por exemplo, conheci os estudos decoloniais ao longo do mestrado e me aprofundei nas discussões teóricas proporcionadas por pensadoras negras, o que gerou em mim mudanças significativas em minhas construções de percepções de mundo, de educação e de pesquisa.

Profhistória: Como soube da seleção do Prêmio ProfHistória de Melhor Dissertação, como você e sua orientadora decidiram fazer a inscrição?

Hellen Pabline Leal Conceição:  Recebi um incentivo muito grande da minha professora-orientadora, Dra. Joseanne Zingleara Marinho, que me acompanhou com um olhar atento por todo o percurso de pesquisa e escrita. Sua dedicação, acolhimento, sabedoria e organização deram a esse trabalho dissertativo a possibilidade de existir da forma como foi apresentado à seleção do Prêmio ProfHistória de Melhor Dissertação. Nós acreditamos muito no trabalho que foi desenvolvido e o levamos para a seleção a fim de vivenciar essa oportunidade.


Profhistória: Fale-nos um pouco de sua trajetória e que significou para você receber o primeiro lugar nesse prêmio?

Hellen Pabline Leal Conceição:  Significou uma vitória muito grande para mim e minha família. Eu sou natural de Caxias, cidade do Maranhão, e migrei para Teresina, capital do Piauí, para cursar Licenciatura em História na UFPI. Então, todo esse processo de deslocamento foi desafiador. Morar em uma cidade nova, arcar com os custos financeiros que advêm disso (vindo de uma família com baixo poder aquisitivo), ficar longe dos familiares mais próximos, conhecer novas pessoas, passar por um processo de constituição de me entender enquanto uma mulher negra e estudar… tudo isso foram camadas desafiadoras. Pensar nessa premiação me faz celebrar uma vitória que é nossa! Minha mãe e meu pai são incentivadores constantes para que eu e minha irmã continuemos estudando, e é muito importante receber esse reconhecimento. Receber essa premiação me emociona muito, pois reflete um compromisso de todo o corpo docente do ProfHistória, polo UESPI/Parnaíba, com o ensino e a pesquisa, que me incentivaram, acolheram, mostraram caminhos e torceram por mim. A educação mudou minha vida. O acesso ao ensino público básico, universitário na graduação e na pós-graduação, são marcos importantíssimos na minha trajetória; tive essa grande felicidade. Agradeço imensamente à instituição pública de ensino de Teresina que me acolheu, à minha família, às/aos amigas/amigos e companheiras/companheiros de profissão pelo acolhimento nesse percurso.

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